É uma micro empresa com 3 trabalhadores e acabou de adoecer gravemente. Embora jovem, a sua saúde é frágil devido a outras patologias associadas, tais como: falta de liquidez, pequenas dívidas às Finanças e Segurança Social e uma rentabilidade baixa que só dava para pagar despesas correntes, salários e impostos (quando ainda chegava!!!).
Quando o Governo mandou encerrar o estabelecimento, anulando a única fonte de receita, fui obrigado a mandar os trabalhadores para casa… Por momentos ainda tive alguma esperança ao ouvir o Primeiro Ministro anunciar os apoios… e pensei em aceder ao layoff simplificado.
De imediato verifiquei o layoff de simplificado não tinha nada… para além da papelada habitual, tinha ainda de envolver advogado, contabilista e provar que tinha tido um decréscimo significativa da faturação (como se o encerramento compulsivo do estabelecimento não significasse um decréscimo de 100%) mas, sem ainda deitar a toalha ao chão, ainda com alguma esperança, tentei avançar, mas deparei-me com os seguintes entraves:
1º- Eu, enquanto gerente, não podia entrar no acordo!!! Como se eu só tivesse obrigações… como se eu fosse um cidadão de segunda, como se eu não necessitasse de comer e não tivesse família… mal comparando, mas comparando, é como se uma família de três elementos estivessem contaminados pelo vírus e à chegada ao hospital lhes perguntassem: quem é o chefe de família? Respondia que era eu e diziam-me: Você vai para o corredor da esquerda (o da morte) porque não tem direito a tratamento e os outros dois vão para o corredor da direita para tratamento…
2º- Mas, como a empresa tinha umas pequenas dividas às Finanças e à Segurança Social, não podia aceder aos apoios … mal comparando, mas comparando, é como se uma família de três elementos estivessem contaminados pelo vírus e à chegada ao hospital lhes perguntassem se tinham pago todos os impostos? Quem respondia que não, tinha de ir para o corredor da esquerda (o da morte) porque não teria direito a tratamento e os outros dois iriam para o corredor da direita para tratamento…
Depois de tudo isto, não tive outra opção, senão despedir os dois trabalhadores, indo assim os dois para o fundo de desemprego (para o corredor da direita para tratamento), e eu, como não posso despedir-me, porque sou gerente, não tenho outra solução senão ir para o corredor da esquerda, sem tratamento, para morrer lentamente e silenciosamente, junto com a empresa…
Estou a dizer-te tudo isto porque o meu caso e de outros portugueses na mesma situação não irão aparecer nas estatísticas e, assim, nunca saberias que mais de 1.000.000 de empresas estão infetadas, contaminando mais de 3.000.000 de trabalhadores.
Todos os "hospitais de empresas" estão fechados não havendo internamentos, muito menos cuidados intensivos… estando as empresas e seus gerentes a morrer sozinhos e abandonados pelo Governo de Portugal…
Fonte: Um empresário que representa os milhares de empresários na mesma situação em Portugal neste momento.
Comments
sou mais um que estou na mesma situação.
cumprimentos e que corra pelo melhor.
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